quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Tabuleiros sem acarajés: um espaço para educações

Por que tanta curiosidade e encantamento? Por que tanta atenção e tensão?



Era o dia do lançamento do projeto Tabuleiros
Digitais, que mudaria para sempre o contexto da Faced

O ano: 2004. A Faculdade de Educação, da Universidade Federal da Bahia, inaugurava o projeto Tabuleiros Digitais. Mais uma idéia ousada nascida da imaginação do professor Nelson Pretto. Você deve estar se perguntando que mistura é esta... Não é bem uma massa de acarajé, mas quase... A inspiração das baianas foi a base para a criação dos móveis. Nada de carteiras ou mesas de escritório. Nada de formalidades num ambiente em que se pretende que os sujeitos desenhem seu próprio percurso. A mesa é mesmo um tabuleiro.

E o assento, um banquinho - "tamburete", como chamamos aqui na Bahia. Para acesso rápido, como se come um acarajé.


Mas o objetivo central, que permeia tudo isso, é a possibilidade de fomentar a inclusão digital. Neste espaço do acaso, no hall de cada andar da Faced (são três ao todo), máquinas com acesso à Internet espalhadas à disposição de quem passa... Quem pode usar? Quem quiser! Alunos, professores, visitantes e também a comunidade vizinha à Faculdade. Um público formado hoje essencialmente por crianças e adolescentes pobres dos bairros Calabar e Garcia. Ah! A Faculdade de Educação fica no Vale do Canela!

Mas menino mexendo em máquina não é inclusão digital, reforçam os pesquisadores do GEC - Grupo de Pesquisa em Educação, Comunicação e Tecnologias -, da Faced, liderado pelo professor Nelson Pretto e pela professora Maria Helena Bonilla. Hummmm... E isso tem sido um problema! Tornar os Tabuleiros um lugar de educação - e quem sabe de formação!


Embora haja monitores que dão suporte aos utilizadores, a intenção é interferir o mínimo possível nos processos. O tempo indicado é de no máximo uma hora, para que outros possam utilizar. Respeitar isso, nem sempre é fácil. O cuidado com as máquinas também faz parte do aprendizado. E mais: a movimentação do público principal - os meninos da vizinhança - estrangeiros naquele ambiente acadêmico, nem sempre é algo tranquilo...

Discussões entre eles, impaciência de alguns funcionários, o não saber lidar com as normas de convivência de uma universidade, o incômdo latente... Como resolver a situação? Como entender este processo de ensino-aprendizagem? Como mediar esta relação? É o que vem tentando responder a professora Bonilla, atual coordenadora do Projeto, e a direção da Faced.
Tem meninos que de manhã cedo já estão lá, esperando a Faculdade abrir. E só saem no fechamento, quando não é mais possível ficar. Alguns dizem se sentir mais seguros ali que na rua. Por onde navegam? Não importa! Navegam. Jogos, Orkut... Um conteúdo nada acadêmico, mas acessível a qualquer indivíduo da classe média com idade semelhante à deles.
A conquista!
Quatro anos depois, o projeto Tabuleiros Digitais é um sucesso. Premiado: vencedor do Prêmio ARede, categoria setor público federal. E segundo lugar do Prêmio de Inclusão Digital do Instituto Telemar. Ah! Hoje os tabuleiros computadorizados já chegaram à cidade de Irecê, no interior do estado - com o suporte do Projeto Pontos de Cultura. O desafio é zelar e manter vivo o sonho de Pretto? Com certeza! Mas é antes de tudo compreender o amplo sentido da palavra educação!

Um comentário:

Adriane disse...

Massa!
A idéia é simples e inovadora.
Eu acho até que o mais instigante de tudo isso é a simplicidade do aspecto físico que permite a emergência de apropriações e estratégias sociais. A estrutura e as máquina são simples: sem HD, em um móvel ventilado, o único jeito de funcionar tanto tempo nesse calor, com sol, chuva, poeira... Cada vez que passo por ali vejo a meninada, lá dos seus 10-15-18-20-30 [ ;) ] anos, usando e abusando de todos esses recursos da web 2, colocando em prática sua autoria (de textos, imagens, objetos 3d), se comunicando, praticando uma arquitetura de participação bem diferente da que a escola tenta empurrar com suas estruturas autoritárias.
Se algum tempo atrás tínhamos apenas uma lógica de informação (centro-periferia/borda), agora temos as bordas do processo construíndo a nova arquitetura de rede em forma de nuvem! São as bordas fazendo a diferença!

Gostei do cuidado que vc teve em preservar o rosto das crianças!